sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Sem rumo...


Desde os tempos em que era apenas uma criança, lembro-me de me sentir deslocada, perdida, sem me sentir pertecente ao que chamam de lar. Me lembro de esboçar bilhetes, desenhos e deixar pela casa, sempre endereçados para minha mãe, falando que iria embora de casa. E isso não ficava apenas nos esboços, eu tinha diversos sonhos partindo de casa, segurando uma pequena trouxinha de coisas que mais eu gostava, uma delas era uma pequena boneca de pano feita por minha mãe.
Não me sentia bem em casa, meu pai sempre ausente, quando presente sempre aos berros, brigando com minha mãe, e principalmente comigo. Perdi as contas de quantas vezes assisti brigas, xingamentos, demonstrações públicas de ciúmes por parte dele.
Além do gritar, (sim, ele só falava assim comigo) como se já não bastasse, ele me agrediu fisicamente com uma chinelada(meu pai calçava 45 e era um sapato pesado), e eu não tinha feito absolutamente nada(ele queria se vingar de minha mãe, pois estavam brigando). Eu só tinha 6 anos, e o que eu poderia fazer? Idealizava tudo isso que citei anteriormente.
Meus pais brigavam, até o dia em que ele resolveu ir embora. O motivo: ele traiu minha mãe e apareceu com uma mulher grávida ao mesmo tempo. Quando perguntei para ele, qual a razão dele ir embora, ele simplesmente me disse: filho é criado sem pai. E enquanto isso, eu tentava consolar minha mãe, e minha irmã que tinha uma adoração por ele(ela tinha completado 4 anos naquela semana). E eu não me lembro de ter chorado por isso, e elas choraram e muito.
Eu não sabia que meu inferno tinha apenas começado. Por decisão judicial, o juíz determinou que eu e minha irmã teríamos que ir para passar finais de semana com ele, de 15 em 15 dias. Detalhe: eu só atravessava a pequena rua, e já estava na casa dele. Sim, meu pai morava de frente para onde eu morava, e assim morou por dez anos.
Quando eu subia para a casa dele, não podia descer mais. E muito menos falar, acenar, fazer qualquer gesto para minha mãe. Me lembro de me pendurar na janela para fazer isso, e confesso que a vontade que eu tinha com apenas 7, 8 anos era de me jogar daquele lugar e ver o que acontecia, se melhorava a situação. E eu via a cara de desespero da minha mãe por não poder falar e nem ter contato com eu e minha irmã.
Nesse meio tempo, minha mãe já estava em um outro casamento. E mais uma vez, eu me sentia deslocada, com vontade de sumir, de andar por aí. Essa pessoa adorava minha irmã, e não gostava de mim. Minha mãe sabia disso. Ele bebia excessivamente, e tinha sérios problemas com o uso do álcool. Então imaginem como me sentia por ver tudo aquilo na minha casa, e quando saia de lá, parava justamente na casa do meu pai.
Minha mãe se separou dessa pessoa, só que eu já tinha praticamente uns 10 anos na época. E minha vontade de sumir não diminuia, só aumentava, pois ainda tinha um terceiro fator: a casa de minha avó(mãe de minha mãe). Minha avó era extremamente rígida, ríspida com as pessoas. Não podia cair um farelo no chão que já era motivo de briga. E eu e minha irmã passamos muitos dias, muitas horas e talvez um ano seguido na casa dela. Saíamos da escola e era para lá que nós duas tinhamos que ir. Ela não era pessoa de carinho, a tal ideia de "coisas de vó", que sempre mima os netos, tentando estragar as regrinhas dos pais.
Minha mãe se meteu em mais um outro relacionamento, e aí sim foi a desgraça. Eu só tive consciência disso somente alguns anos depois. E eu prefiro não me alongar falando sobre isso, é uma ferida enorme aberta, que tento cuidar todos os dias da minha vida.
Eu me lembro que além disso, sofria no colégio. Tinha dificuldades de me incluir com meus coleguinhas, algumas amizades preciosas eu fiz na época, mas foram por semelhanças de história complicadas de vida. Me lembro que minha melhor amiga tinha perdido a mãe quando criança, e ela era criada por uma vó extramente rígida, e ela sempre dizia o quanto sentia falta dessa mãe, que era o inverso da vó. E eis que nós duas éramos motivos de brincadeiras na sala, de gozação, e isso dóia muito nas duas. Chegamos ao ginásio com essa amizade, que durou bastante tempo, até o momento em que eu segui outro rumo e ela também. Creio que se algum dia eu vê-la na rua, a reação das duas é um forte abraço, pois foi assim que nos falamos da última vez, uns 5, 6 anos atrás.
Recentemente, saí de casa. E olha novamente o sentido do deslocamento...
Minha mãe arrumou outro relacionamento, moramos juntos por dois anos, só que foram dois anos de sofrimento, agressões verbais, e até ameaça física entre o companheiro dela e eu. Até o dia que ele disse, vá embora você e quem quiser. E eu já não estava na minha casa como antes. Recebi o apoio de pessoas maravilhosas e saí de casa. Só que nenhum lugar é perfeito, isso eu já tinha noção. Não por essas duas pessoas fantásticas que surgiram na minha vida, mas por outra pessoa que tem muito o que aprender nessa vida... E volta e meia, o sentido de deslocamento volta, e eu não sei o que fazer...

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

I don't wanna be me....


"I don't wanna be
I don't wanna be me
I don't wanna be...me anymore"
Type O Negative - I don't wanna be me
É, em alguns momentos, essa música, ou melhor, esse trecho da mesma é bem válido para mim.
Em certas situações, eu fico tão tensa, tão tensa, que acabo me boicotando de alguma forma. Conhecimento teórico, posso até ter. No entanto, quando me sinto em situação de avaliação, isso soa tão aversivo para mim que acabo nesse estado de embaraço. Nesse momento, não consigo criar e muito menos segurar máscaras. Simplesmente eu desabo. Me perco nas palavras, nos sentimentos, nas emoções... E muitas vezes é em uma oportunidade de ouro para mim, meu futuro profissional. Como consigo deixar escapar uma coisa tão preciosa para mim? Como e que mecanismos são esses que uso e que não consigo compreender? Nesses momentos parece que entro em colapso mental, tudo foge: o que queria dizer, meus sentimentos reais....
Nessas horas, gostaria de não ser eu.... I don't wanna be me....